SOBREVIVENTES
Acordei
pela manhã, ainda desnorteada, sabia da tragédia da madrugado do Domingo, tinha
sido avisada pela imprensa, pelo Samuel Sardinha e pela Simmy Larat, e a todo
tempo me perguntava, afinal, qual é o meu papel? Afinal sou uma transexual, a navalha
esta cortando minha própria carne.
Articulei
a reunião na Delegacia Geral com o seu respectivo Delegado Geral e mais o Secretario
de Segurança, que a proposito já se encontrava na DGP, a fim de participar de
um evento. Momento propício para que expuséssemos nossas preocupações, momento
para cobrar providencias eficientes e imediatas. Era o mínimo.
Então
foi o que fiz, juntamente com Simmy Larat e Samuel Sardinha. Saindo de lá, após
receber informações sobre as investigações e de terem afirmado, todos, o
compromisso, de total dedicação afim de elucidar o caso, e punir os responsáveis,
ou melhor, os assassinos frios e calculistas que proporcionaram uma execução sumaria
a BIANCA, e a respectiva tentativa às sobreviventes.
Fomos
ate a SEGUP, garantir a agenda do GT de Segurança, e reunião com o CONSEP,
objetivando a implementação imediata do Plano de Governo, o qual já fora
aprovado a aproximadamente dois anos, mas que ate entanto não fora implantado.
Mas
importante para mim, foi o abraço que recebi daquela Mãe.
Já
no Hospital Metropolitano, falamos com LETÍCIA, já havia passado por uma
cirurgia para retirar a bala do seu braço. Ainda muito abalada, queria logo ter
alta, como qualquer sobrevivente, queria se sentir segura em casa, como se sua
estada em qualquer outro lugar sugerisse que aquele pesadelo ainda não tinha
acabado.
Subindo
para o próximo andar, guiada pela enfermeira, me deparo com uma senhora, em
meio a uma enfermaria lotada, aquela senhora chamava atenção. Com frio,
enrolada em um lençol estampado, me olhava com um semblante que sugeria: POR QUE?
E
aos poucos me olhando e reconhecendo que eu , tratava-se de uma transexual
também, e que estava ali pelo filho dela (ELÓA), me abraçou ainda muito
fragilizada, colocou a cebeça no meu ombro e disse verbalmente o que já havia
lido em seu semblante: POR QUE, MEU DEUS? FIZERAM ISSO COM MEU FILHO, POR QUE?
Momento
em que me sentir mais incapaz, também não sei meu Deus porque nossa orientação
sexual nos faz sofrer tanto assim.
Tentei
acalma-la e nos deixamos a disposição para todo e qualquer apoio, que ela e Eloa
viesse a precisar. ELÓA dormia, sedada ainda pelo remédios que combate a dor. E
que remédio dar aquela mãe? Eu não tinha. Assim como fiquei devendo para ela a
ela a resposta do “POR QUE”, Explicar como um ser humanos pode ser exposto a essa
situação por intolerância e discriminação.
Assim
como LETÍCIA E ELÓA, somos todos e todas, sobreviventes. Dessa sociedade que
nós oferece uma guerra todos os dias, guerra a qual não terá vencedores, apenas
vitimas e sobreviventes. São tiros, são ofensas, são agressões, e ate quando?
Por
enquanto, infelizmente, ate quando conseguimos SOBREVIVER.
Por
Bruna Lorrane.
Em
18 de junho de 2012.
É de chocar a qualquer um a tamanha brutalidade com que essas agressões vem acontecendo.
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