terça-feira, 19 de junho de 2012


SOBREVIVENTES



         Acordei pela manhã, ainda desnorteada, sabia da tragédia da madrugado do Domingo, tinha sido avisada pela imprensa, pelo Samuel Sardinha e pela Simmy Larat, e a todo tempo me perguntava, afinal, qual é o meu papel? Afinal sou uma transexual, a navalha esta cortando minha própria carne.

                         Articulei a reunião na Delegacia Geral com o seu respectivo Delegado Geral e mais o Secretario de Segurança, que a proposito já se encontrava na DGP, a fim de participar de um evento. Momento propício para que expuséssemos nossas preocupações, momento para cobrar providencias eficientes e imediatas. Era o mínimo.

                      Então foi o que fiz, juntamente com Simmy Larat e Samuel Sardinha. Saindo de lá, após receber informações sobre as investigações e de terem afirmado, todos, o compromisso, de total dedicação afim de elucidar o caso, e punir os responsáveis, ou melhor, os assassinos frios e calculistas que proporcionaram uma execução sumaria a BIANCA, e a respectiva tentativa às sobreviventes.

                       Fomos ate a SEGUP, garantir a agenda do GT de Segurança, e reunião com o CONSEP, objetivando a implementação imediata do Plano de Governo, o qual já fora aprovado a aproximadamente dois anos, mas que ate entanto não fora implantado.

                      Mas importante para mim, foi o abraço que recebi daquela Mãe.

                     Já no Hospital Metropolitano, falamos com LETÍCIA, já havia passado por uma cirurgia para retirar a bala do seu braço. Ainda muito abalada, queria logo ter alta, como qualquer sobrevivente, queria se sentir segura em casa, como se sua estada em qualquer outro lugar sugerisse que aquele pesadelo ainda não tinha acabado.

                    Subindo para o próximo andar, guiada pela enfermeira, me deparo com uma senhora, em meio a uma enfermaria lotada, aquela senhora chamava atenção. Com frio, enrolada em um lençol estampado, me olhava com um semblante que sugeria: POR QUE?

                    E aos poucos me olhando e reconhecendo que eu , tratava-se de uma transexual também, e que estava ali pelo filho dela (ELÓA), me abraçou ainda muito fragilizada, colocou a cebeça no meu ombro e disse verbalmente o que já havia lido em seu semblante: POR QUE, MEU DEUS? FIZERAM ISSO COM MEU FILHO, POR QUE?

                   Momento em que me sentir mais incapaz, também não sei meu Deus porque nossa orientação sexual nos faz sofrer tanto assim.

                  Tentei acalma-la e nos deixamos a disposição para todo e qualquer apoio, que ela e Eloa viesse a precisar. ELÓA dormia, sedada ainda pelo remédios que combate a dor. E que remédio dar aquela mãe? Eu não tinha. Assim como fiquei devendo para ela a ela a resposta do “POR QUE”, Explicar como um ser humanos pode ser exposto a essa situação por intolerância e discriminação.

                  Assim como LETÍCIA E ELÓA, somos todos e todas, sobreviventes. Dessa sociedade que nós oferece uma guerra todos os dias, guerra a qual não terá vencedores, apenas vitimas e sobreviventes. São tiros, são ofensas, são agressões, e ate quando?

                  Por enquanto, infelizmente, ate quando conseguimos SOBREVIVER.

Por Bruna Lorrane.

Em 18 de junho de 2012.

Um comentário:

  1. É de chocar a qualquer um a tamanha brutalidade com que essas agressões vem acontecendo.

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