terça-feira, 26 de junho de 2012


NOTA DE REPÚDIO A HIPOCRISIA POLITIQUEIRA E AO OPORTUNISMO RELIGIOSO.



Nesta direção teórica, faço valer minha voz nesta nota de repúdio por acreditar que toda forma de autoritarismo, dominação e violação de direitos humanos deve ser denunciada e repudiada publicamente, tal como fez a grande parte dos militantes atuantes do nosso MOVIMENTO LGBT DO PARÁ. Pauto minha análise e reflexão por ter visto o discurso na Câmara Municipal, do VEARADOR PASTOR PAULO QUEIROZ, falando de Moralidade na “Sua casa” a Câmara Municipal!

Acredita-se que a Câmara Municipal seja o ambiente adequado para o debate das diversidades existentes. Assuntos que influenciam no cotidiano de todos cidadãos de Belém. Quando uma Instituição limita o diálogo pela arbitrariedade usando como palavra de ordem a “ética”, significa que está é solícita com tudo que lutamos contra o imoral.

Disse Paulo Queiroz não ser contra a qualquer manifestação de grupos sejam homossexuais ou não, assim como defende o direito de qualquer cidadão fazer o que bem entende porém, não pode aceitar que a ética, a moralidade e o respeito sejam esquecidos dentro de um Poder Legislativo.

MORALIDADE? RESPEITO?

Moralidade ou hipocresia Vereador? Porque não foi isso que o senhor falou no seu discurso na mesma Câmara Municipal quando ocorreu o seminário do PSDB, meses atrás, quando o DIVERSIDADE TUCANA cobrava ao Senhor e ao Vereador Nemias, uma postura Laica de direito, cobrando uma Belém de Direitos Iguais. Quer dizer que o seu discurso muda de acordo com o publico? Depende de quem esta escultando? E isso é moralidade e respeito?

Essa casa VEREADOR não é sua propriedade, essa casa é do povo! Povo que é formado por DIVERSIDADE. Um beijo lgbt, hetero, trans, é simplesmente um beijo, sinal de amor, de afeto, carinho. AMOR, este que JESUS defendeu em todo o Novo Testamento, AMOR AO PROXIMO.

Não faça mal uso da palavra DEMOCACIA, para aleijar meu povo, com mais preconceito!

Não faço parte desse “sub- partido” que tentas criar dentro do PSDB, antes mesmo de ser PSDB, SOU TRANSEXUAL . Cheia de orgulho e de amor, contribuindo para inserir no DNA do Partido da Social Democracia Brasileira a ideologia politica de igualdade para todos, a diversidade sexual como uma dinâmica social natural que necessita de politicas publicas direcionadas como todos os seguimentos, auxiliando nosso Governador e demais gestores públicos a promoção social para a comunidade LGBT.

Me orgulho de ser PSDB, sim mas o verdadeiro, como o dirigido pelo presidente Fabricio Gama em Belém, do Governador Simão Jatene, Governo PSDB,  com a criação da Delegacia de Crimes Discriminatório e agora a Divisão para crimes Homofóbicos,  como em São Paulo, o governo do PSDB criou o CADS – Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual – Um exemplo de ação em prol dos LGBT. Conta ainda com a figura de Geraldo Alckmin, que cada vez mais tem se mostrado aliado da causa aparecendo em eventos como a última Parada Gay da cidade e na II Conferência LGBT.

Já na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, os vereadores do partido votaram contra a lei de Carlos Bolsonaro que pretendia proibir materiais sobre diversidade sexual nas escolas públicas do município.

O beijo gay não é vergonha, vergonha eu sinto do Senhor e de outros, como o Vereador do PSDB, Cristóvão Gonçalves. Infelizmente a HOMOFOBIA, não é atributo só dos Senhores, existe em todos os partidos políticos, assim como em todas as esferas da sociedade.

Mas lutarei ate o fim, fim este que será estabelecido, pelo meu Deus, Deus este, que é usado muitas vezes em oportunismo religioso, mas que eu sei que me AMA e AMA a todos COM IGUALDADE.

JESUS O VERDADEIRO PASTOR, NUNCA SE CANDIDATOU A NEMHUM CARGO POLITICO, PELO CONTRARIO, DEU A CÉZAR O QUE ERA DE CÉZAR.

 JESUS É MEU PASTOR, VEREADOR, E O MANDATO DELE, É ETERNO NO MEU CORAÇÃO!



Por Bruna  Lorrane.

Militante do Gretta

Presidente do Diversidade Tucana Municipal.






terça-feira, 19 de junho de 2012


SOBREVIVENTES



         Acordei pela manhã, ainda desnorteada, sabia da tragédia da madrugado do Domingo, tinha sido avisada pela imprensa, pelo Samuel Sardinha e pela Simmy Larat, e a todo tempo me perguntava, afinal, qual é o meu papel? Afinal sou uma transexual, a navalha esta cortando minha própria carne.

                         Articulei a reunião na Delegacia Geral com o seu respectivo Delegado Geral e mais o Secretario de Segurança, que a proposito já se encontrava na DGP, a fim de participar de um evento. Momento propício para que expuséssemos nossas preocupações, momento para cobrar providencias eficientes e imediatas. Era o mínimo.

                      Então foi o que fiz, juntamente com Simmy Larat e Samuel Sardinha. Saindo de lá, após receber informações sobre as investigações e de terem afirmado, todos, o compromisso, de total dedicação afim de elucidar o caso, e punir os responsáveis, ou melhor, os assassinos frios e calculistas que proporcionaram uma execução sumaria a BIANCA, e a respectiva tentativa às sobreviventes.

                       Fomos ate a SEGUP, garantir a agenda do GT de Segurança, e reunião com o CONSEP, objetivando a implementação imediata do Plano de Governo, o qual já fora aprovado a aproximadamente dois anos, mas que ate entanto não fora implantado.

                      Mas importante para mim, foi o abraço que recebi daquela Mãe.

                     Já no Hospital Metropolitano, falamos com LETÍCIA, já havia passado por uma cirurgia para retirar a bala do seu braço. Ainda muito abalada, queria logo ter alta, como qualquer sobrevivente, queria se sentir segura em casa, como se sua estada em qualquer outro lugar sugerisse que aquele pesadelo ainda não tinha acabado.

                    Subindo para o próximo andar, guiada pela enfermeira, me deparo com uma senhora, em meio a uma enfermaria lotada, aquela senhora chamava atenção. Com frio, enrolada em um lençol estampado, me olhava com um semblante que sugeria: POR QUE?

                    E aos poucos me olhando e reconhecendo que eu , tratava-se de uma transexual também, e que estava ali pelo filho dela (ELÓA), me abraçou ainda muito fragilizada, colocou a cebeça no meu ombro e disse verbalmente o que já havia lido em seu semblante: POR QUE, MEU DEUS? FIZERAM ISSO COM MEU FILHO, POR QUE?

                   Momento em que me sentir mais incapaz, também não sei meu Deus porque nossa orientação sexual nos faz sofrer tanto assim.

                  Tentei acalma-la e nos deixamos a disposição para todo e qualquer apoio, que ela e Eloa viesse a precisar. ELÓA dormia, sedada ainda pelo remédios que combate a dor. E que remédio dar aquela mãe? Eu não tinha. Assim como fiquei devendo para ela a ela a resposta do “POR QUE”, Explicar como um ser humanos pode ser exposto a essa situação por intolerância e discriminação.

                  Assim como LETÍCIA E ELÓA, somos todos e todas, sobreviventes. Dessa sociedade que nós oferece uma guerra todos os dias, guerra a qual não terá vencedores, apenas vitimas e sobreviventes. São tiros, são ofensas, são agressões, e ate quando?

                  Por enquanto, infelizmente, ate quando conseguimos SOBREVIVER.

Por Bruna Lorrane.

Em 18 de junho de 2012.

segunda-feira, 18 de junho de 2012


HOMOFOBIA GANHOU UMA NOVA MASCARA: “Acerto de contas”

"Bianca" foi atingida com pelo menos cinco tiros no corpo e morreu na hora. Renilson e Leandro também foram atingidos pelos tiros, mas foram socorridos por unidades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu-192) acionadas por pessoas que passavam no local do crime e levados para o Hospital de Pronto-Socorro Municipal Humberto Maradei, o PSM do Guamá. Por causa da gravidade dos ferimentos, eles foram transferidos para o Hospital Metropolitano ainda na madrugada de ontem. As vítimas passaram por cirurgia, mas o estado de saúde delas é grave. Até o final da manhã de ontem, a polícia não tinha nenhuma pista sobre os autores do crime.

A cada dia mais indignada, sufocada, mas minhas palavras nunca amordaçadas...

Quem é a verdadeira vitimas nesse caso? O assassino?

Toda vez que um LGBT sofre violência será, uma culpa dividida, porque é acerto de contas?

Toda a travesti que esta na rua esta roubando?

Deixem de ser hipócritas, enquanto defendem esses subterfúgios meu povo morre em prontos-socorros,

SOCORRO!!!

Mesmo se fosse o caso alegado,  porque é travesti, legitima fazer justiça com as próprias mãos?

Porque é travesti merece ser executada? Não autoridades, calaram a Bianca mais não vão me calar, vou para a porta de cada um de vocês – autoridades - terão que ter mais criatividade porque cansei de seus inquéritos pré-moldados e suas versões clichês.

Por Bruna Lorrane

domingo, 17 de junho de 2012

O que vi da vida

                                  O que vi da vida
                                    
                                                                           Parte 1



Quando dei por mim, estava da casa de minha finada vó,

La me sentia protegida, por mais que meus primos, tios,

Insistissem em me chamar de “mariquinha”,

É mariquinha, era assim que se ofendia a 20 anos atrás,

Hoje em dia as agressões verbais são muito mais agressivas e ofensivas,

Não tinha nem para quem me queixar do que passava dentro e fora de casa,

Tinha vergonha.

É vergonha, parece que não tinha direito de reclamar,

Eu era afeminada mesmo, “falava cantando”, tinha a voz afetada,

Cheguei a pensar que eles estavam certos e eu erada,

Por isso não me queixava para a mamãe e que dirá para o papai,

No colégio, ou agente se exclui ou é excluída,

Mas fazer o que? Por mais que tente, não sabia jogar bola mesmo,

E as brincadeiras das meninas eram tão mais divertidas, combinavam tanto mais comigo,

E agente acaba sempre escutando: - Deixa, não liga para eles,

- Deixa eles falarem o que quiser, você não é gay mesmo, ne?

SILÊNCIO

Não sei se gay? Ou eu sei e não aceito? Mas eu ainda não gosto de meninos,

E nem de meninas,

Não sou gay então, e nem quero, e muito ruim ser gay,

É pecado, Deus não gosta, meu pai faz piadinhas com gay,

Quando algum menino faz algo errado na brincadeira é chamado de gay,

Ou logo alguém grita: Tu é fresco é?

Não sou gay, mas confesso que gosto de usar os saltos da mamãe quando fico só em casa,

Sei imitar as dançarinas do Tchan direitinho, e dançar como a Jade também,

Queria ter o cabelo grande,

Roupa de mulher é tão mais bonita,

Mas isso não é certo,

É melhor fingir que não gosto dessas coisas,

O padre disse que Deus sempre, escuta as crianças,

Poxa, mas me ajoelhei tantas vezes, aos pés da cama,

Pedindo: Papai do céu não deixa eu ser AQUILO que o senhor sabe o que é, por favor.

E meu “jeitinho” nada de mudar,

A adolescência chegando e os meninos não param de falar sobre sexo,

Questionado por amigos de amigos,

Meus amigos respondiam: - Não ele não é gay não, é o jeito dele,

Ele “amamaezado” mas não é gay, tu achas que ele fosse gay agente estava andando com ele?

É esse negocio de ser gay, não quero mesmo, é muito ruim,

Mas não sei o que faço continuo querendo ser e me sentindo como uma mulher,

Mas ninguém sabe disso, pelo amor de Deus.

As minhas blusas compro mais apertadas agora,

Tenho alguns amigos que acho que são gays,

Mas eu não falo nada, meus amigos e família, não sabem disso, e nem podem saber,

Mas gosto de estar com eles, são mais divertidos, se vestem como eu,  falam,

Aprendi varias palavras novas, e agora nos falamos entre agente, e ate quem ta do lado não entende, (risos) é divertido,

Disseram-me, que existe um tal de hormônios, que as mulheres tomam para não engravidar,

E que se agente tomar fica mais feminina, tenho medo, muito mesmo, mas vou tomar,

Já estou ate deixando o cabelo crescendo e usando alisante,  esta certo que o papai já mandou eu corta duas vezes, mas não vou desistir, em uma hora ele para.

Já tomei três doses, o meu peito começou a doer, e sinto como se tivesse formando um carocinho, tenho medo, mas vou continuar, meus amigos disseram que é normal.

Tenho uma camisinha já na bolsa, na realidade, é uma mochila, ainda não posso ter bolsa,

Mas minha mochila tem tudo que tem em uma bolsa,

(...) Continua.

Em 18 de junho de 2012.

Por Bruna Lorrane


                 
Bruna Lorrane é paraense, nascida em Belém, no antigo Hospital Santa Clara, é filha de um oficial da marinha e de uma professora. Família pequena, filha única, viveu a maior parte de sua vida em Belém. Estudou em escola da marinha conveniada com o Governo e teve uma educação religiosa, pensou até em seguir carreira por dentro da igreja, espaço que frequentava desde pequena. Sempre foi uma das melhores alunas da sala. Quando decidiu fazer universidade passou em duas: Serviço Social na UFPA e Direito no Cesupa. Este ano se forma em direito pela UNAMA. Já trabalhou no Ministério do Fazenda, montou salão de beleza, hoje trabalha na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos cedida do gabinete do Governador Simão Jatene. Enfim, em tudo que se propôs fazer, Bruna se destacou como exemplo. 

            A fala é delicada, sutilmente delicada. Não há falsete. Ela anda sem rebolar, sem estardalhaços, sem provocações. Não faz questão de chocar. A moça, de 25 anos, além de elegante, é discreta. Tem o sorriso bonito, às vezes tímido, como se ainda tivesse medo de sorrir. Dentes perfeitos. Olhos amendoados realçados com lápis preto e sombra. Nas unhas, esmalte vermelho. Nos lábios, batom leve rosado.

            E daí? O que esta história tem de tão espetacular, além de revelar uma enorme capacidade de luta e conquista dessa moça? Quantas pessoas também não conseguiram tanto ou até mais? A história de Bruna começa a fazer toda a diferença quando se descobre que ela nem sempre foi Bruna. Como? Bruna é uma impostora? Usou documentos de outra pessoa? Fraudou exames? Mentiu para todos o tempo todo?


Nada disso. Na verdade, Bruna nasceu Bruno Carlos de Andrade. Há alguns anos iniciou sua transformação em Bruna, isso mesmo, Bruna Lorrane é uma Transexual.

Preconceito

Esta história começa pelo fim. Mas, para entendê-la, é preciso voltar ao começo. O menino Bruno sempre foi delicadamente diferente. “Aos 6 anos, minha família percebeu que eu não era como os outros meninos. Usava toalha na cabeça fingindo ser o cabelo que queria ter, adorava as bonecas, vivia em um mundo cor de rosa, já que por vezes fiquei só já que minha mãe trabalhava e meu pai viajava muito. Não me identificava com nada de menino”, conta Bruna. 

Na adolescência, amigos mais próximos e até alguns vizinhos, todos sabiam que o filho do marinheiro e da professora era “diferente”. “Delicado demais”, cochichavam alguns, à meia-boca. A palavra homossexual jamais fora pronunciada. “Só fui ter relação aos 17 anos e com um garoto. Foi quando desabrochei  e entendi o que era gostar de homens, mas ainda faltava algo, não queria ser um  menino que gostava de outros meninos, queria ser amada como mulher.”, conta Bruna. 

               Bruna se tornou adolescente. Na escola — e fora dela —, muitos foram os momentos de agressões verbais e humilhações, engolindo o choro o adolescente foi se afirmando como gay e se tornando um homem gay. Essa fase de afirmação era mais externa para enfrentar a sociedade do que interna,  Bruno sabia lá dentro de si que era Bruna, uma mulher.

               Em 2005 entrou nas duas faculdades e começou a integrar o mercado de trabalho, foi difícil para o rapaz gay com enormes trejeitos femininos enfrentar o dia-a-dia do trajeto casa - trabalho- faculdade- casa, acompanhado de ofensas, risos e piadas.

               Já assumida em casa, porém, sem ainda uma relação de aceitação sólida, Bruna decidiu se desligar de toda sua vida e iniciar uma nova. Sabia que tinha que se afastar dos laços fortes que tinha com a família, mesmo com todas as diferenças.

               Foi ai que decidiu ir para Europa. Foi lá, no ano de 2007, que Bruna estudou tudo o que podia sobre a transexualidade e iniciou as mudanças físicas para tornar-se a Bruna Lorrane de hoje. Cresceram os seios. As feições ficaram mais delicadas, mais femininas, cabelos longos, corpo bem desenhado. Conquista através de cirurgias plásticas, tratamentos estéticos, laser para depilação definitiva, dentro outro processos algum, inclusive, incômodos e doloridos, a fim de obter o resultado de hoje.

               Bruno retornou Bruna Lorrane, retomou os estudos, engajou-se na causa, foi contratada pelo governo, montou Secretariado Diversidade Tucana em seu partido, e a cada dia galga mais um degrau em busca de seu sonho.      Bruna Lorrane continua lutando para ser aceita, para usar seu nome social, para transforma-lo em nome civil, para adentrar no mercado de trabalho como a primeira Transexual advogada.



E o que Bruna quer mais? “Terminar minha graduação e continuar meu processo de formação acadêmica, pós-graduação, mestrado em Direitos Humanos, viver com o meu companheiro e lutar por todas as causas sociais e contra quaisquer formas de discriminação. É isso que sonhei a vida toda. Minha luta não será em vão.”

Antes de qualquer coisa, esta é uma história feita de demasiada coragem e superação.


Por Symmy Larat

Em 12 de junho de 2012.