domingo, 17 de junho de 2012

O que vi da vida

                                  O que vi da vida
                                    
                                                                           Parte 1



Quando dei por mim, estava da casa de minha finada vó,

La me sentia protegida, por mais que meus primos, tios,

Insistissem em me chamar de “mariquinha”,

É mariquinha, era assim que se ofendia a 20 anos atrás,

Hoje em dia as agressões verbais são muito mais agressivas e ofensivas,

Não tinha nem para quem me queixar do que passava dentro e fora de casa,

Tinha vergonha.

É vergonha, parece que não tinha direito de reclamar,

Eu era afeminada mesmo, “falava cantando”, tinha a voz afetada,

Cheguei a pensar que eles estavam certos e eu erada,

Por isso não me queixava para a mamãe e que dirá para o papai,

No colégio, ou agente se exclui ou é excluída,

Mas fazer o que? Por mais que tente, não sabia jogar bola mesmo,

E as brincadeiras das meninas eram tão mais divertidas, combinavam tanto mais comigo,

E agente acaba sempre escutando: - Deixa, não liga para eles,

- Deixa eles falarem o que quiser, você não é gay mesmo, ne?

SILÊNCIO

Não sei se gay? Ou eu sei e não aceito? Mas eu ainda não gosto de meninos,

E nem de meninas,

Não sou gay então, e nem quero, e muito ruim ser gay,

É pecado, Deus não gosta, meu pai faz piadinhas com gay,

Quando algum menino faz algo errado na brincadeira é chamado de gay,

Ou logo alguém grita: Tu é fresco é?

Não sou gay, mas confesso que gosto de usar os saltos da mamãe quando fico só em casa,

Sei imitar as dançarinas do Tchan direitinho, e dançar como a Jade também,

Queria ter o cabelo grande,

Roupa de mulher é tão mais bonita,

Mas isso não é certo,

É melhor fingir que não gosto dessas coisas,

O padre disse que Deus sempre, escuta as crianças,

Poxa, mas me ajoelhei tantas vezes, aos pés da cama,

Pedindo: Papai do céu não deixa eu ser AQUILO que o senhor sabe o que é, por favor.

E meu “jeitinho” nada de mudar,

A adolescência chegando e os meninos não param de falar sobre sexo,

Questionado por amigos de amigos,

Meus amigos respondiam: - Não ele não é gay não, é o jeito dele,

Ele “amamaezado” mas não é gay, tu achas que ele fosse gay agente estava andando com ele?

É esse negocio de ser gay, não quero mesmo, é muito ruim,

Mas não sei o que faço continuo querendo ser e me sentindo como uma mulher,

Mas ninguém sabe disso, pelo amor de Deus.

As minhas blusas compro mais apertadas agora,

Tenho alguns amigos que acho que são gays,

Mas eu não falo nada, meus amigos e família, não sabem disso, e nem podem saber,

Mas gosto de estar com eles, são mais divertidos, se vestem como eu,  falam,

Aprendi varias palavras novas, e agora nos falamos entre agente, e ate quem ta do lado não entende, (risos) é divertido,

Disseram-me, que existe um tal de hormônios, que as mulheres tomam para não engravidar,

E que se agente tomar fica mais feminina, tenho medo, muito mesmo, mas vou tomar,

Já estou ate deixando o cabelo crescendo e usando alisante,  esta certo que o papai já mandou eu corta duas vezes, mas não vou desistir, em uma hora ele para.

Já tomei três doses, o meu peito começou a doer, e sinto como se tivesse formando um carocinho, tenho medo, mas vou continuar, meus amigos disseram que é normal.

Tenho uma camisinha já na bolsa, na realidade, é uma mochila, ainda não posso ter bolsa,

Mas minha mochila tem tudo que tem em uma bolsa,

(...) Continua.

Em 18 de junho de 2012.

Por Bruna Lorrane


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